Vyšehrad, Praga, 23 de abril de 2020 – Edição 34

Entrevista: Sua Majestade o Rei da Prússia

Na data de sua investidura como Conde de Karlštejn e Senhor de Hrádek, o VN foi recebido no Castelo de Königsberg para a primeira entrevista de Carlos III a um veículo de imprensa desde sua coroação.

Vyšehrad Noviny: Majestade, sendo o senhor um dos alemães mais notórios, sobretudo graças à sua longeva caminhada pela Lusofonia e por seus incontáveis trabalhos em heráldica presentes em inúmeros países, como vê o estágio atual da micronacionalidade? Estamos mesmo vivendo um universo em desencanto?

Carlos III: Na realidade não. O que vejo acontecendo é que o mundo macro retirou muitas pessoas do micronacionalismo justamente pela razão bem simples: as opções macros para entretenimentos digitais são infinitas hoje em dia. Historicamente falando, o micronacionalismo começou nos anos 80 literalmente na base de cartas de correios, papel físico. Depois sim veio a Internet, mas como o início era na época da conexão discada, tudo acontecia por meio de e-mails. À medida que a Internet foi sendo mais rápida e mais barata, os meios de comunicação melhoraram, mas também as opções de outras diversões. Entretanto, isso ajudou também a filtrar. Atualmente, quem é micronacionalista é exatamente porque gosta disso de verdade, pois poderia gastar seu tempo livre noutras coisas na Internet, mas resolveu ficar no micronacionalismo. Uma coisa é inegável: possivelmente jamais teremos um mundo micronacional virtual com tamanho número de pessoas como era antigamente, onde em média uma micronação padrão tinha em torno de 10 a 30 cidadãos, chegando ao caso de algumas terem mais de 200. Hoje em dia a média é entre 5 e 15, e quando passa disso pode-se chamar que é uma mega micronação. Mas micronação não se mede por número de cidadãos, mas sim, por produção e posição. Existir por existir é algo fácil de se fazer. O difícil é ser um grupo que existe e produz atividade de fato e não apenas mensagens tipo “oi”, “eae ?” (sic), “só”, etc.

VN: Amparando-se neste parâmetro, então, como avaliar a atual conjuntura da Alemanha? O senhor identifica que o Império vive o ápice de sua forma no ano que completará 18 anos de fundação? Haveriam espaços por preencher ou mesmo repensar o emprego do potencial humano em setores menos tocados pela atenção do poder público?

Carlos III: É complicado dar uma resposta simples, pois tem partes complexas a se avaliar. Em tese, sim, o Império Alemão é uma micronação muito amadurecida e serve de referência para muitas outras. O IA chega aos 18 anos com uma bagagem micronacional que poucas têm pra mostrar. É evidente que não existe micronação perfeita, pois uma micronação é feita de pessoas e pessoas erram. Sou mais novo que o IA apenas por dois meses pois “nascemos” no ano de 2002. Naqueles tempos muito do micronacionalismo era quase que um jardim de infância, se comparado aos dias atuais. Relendo as primeiras mensagens da época há situações em que pode-se rir muito pois são hilárias, mas [eram] são outros tempos. A parte complexa de se passar por tanto tempo e experiências é que perdemos um pouco de sensibilidade para com os novos micronacionalistas. Antropologicamente falando, isso é comum numa sociedade, porém olhando do ponto de vista de quem está entrando, o “zerinho” do micronacionalismo, ele fica meio perdido no meio dos “dinossauros”. É sim uma arte a se cultivar, o de reaprender a conviver com os novatos. A II Microcom ajudou, mesmo que de forma rala (até porque não era esse o principal objetivo) a debater o tema de dar importância aos novatos e de enturmá-los no ambiente micronacional. Há sim uma preocupação nesse sentido também no IA, porém, e isso tem acontecido em muitas micronações, ao mesmo tempo muitos novatos entram com a ideia de que vão fazer tudo por eles, quando na realidade não adianta fazer tudo por eles se eles mesmos não estão afim de “arregaçar as mangas” e trabalhar. Mas isso é normal, pois a vida macro coloca e retira as pessoas temporariamente das atividades micronacionais. Temos é que aceitar essa realidade e aprender a conviver com isso.

VN: O senhor consideraria que a Prússia possa agregar qual aspecto à essa lacuna que Vossa Majestade mencionou, em relação a cultivar a arte de conviver com as novas gerações? E mesmo sendo um país autônomo no interior de uma federação, digamos assim, o senhor imagina que a Prússia teria qual capilaridade para favorecer a assimilação dos ingressantes na Alemanha ou no próprio micronacionalismo como um todo?

Carlos III: Bom, a Prússia não tem essa incumbência específica dentro do Império, entretanto, entrar em contato com os novatos é uma das minhas preocupações, até porque isso sempre foi uma marca registrada desde os meus primeiros tempos de micronacionalismo. Mas mesmo me preocupando com isso, atualmente a Prússia tem assumido tarefas que me tiram o tempo para fazer justamente essa parte que eu gosto muito, o de ter acesso aos novatos. Espero que, passados os tempos iniciais de tarefas em andamento, eu possa retornar às minhas origens e assim poder tirar tempo especificamente para os novatos. No dia desta entrevista já estou concluindo mais um projeto e que será apresentado amanhã, na data de 24 de Abril de 2020. Concluindo essa etapa já se inicia uma nova que é maior ainda, sem contar mais alguns [outros projetos] pela frente. O Reino da Prússia assumiu a tarefa, dentro da Alemanha, de fazer a parte artística e cultural da nossa nação e é sobre isto que executo meus serviços. Até ao final do ano haverá novidades dentro do tempo macro que nos permitir.

VN: Mesmo não possuindo a mesma disponibilidade para acessar as novas gerações, quais conselhos ou recomendações a Prússia poderia legar aos que ingressam na Lusofonia? Qual seria, da perspectiva que o senhor possui, o ponto vulnerável dos novos micronacionalistas?

Carlos III: Em primeiro lugar entender o que realmente é o micronacionalismo, que antes nada mais é do que um hobby, porém, nem por isso deixa de ser sério. É hobby, pois não é um mundo real macro, mas é sério pois não é um game, é um exercício de cidadania. A base desse hobby é que há regras e se a pessoa não entende que deve andar por meio delas nada funciona. Da mesma forma que há regras no mundo macro, no micro também é preciso [que regras existam], para que haja ordem e condução da civilidade. Assim que o novo micronacionalismo entende essa base da sociedade, mesmo que num mundo virtual, dai ele pode atual no meio dos seus colegas de hobby. Em segundo lugar é preciso saber que muito antes de receber, é preciso dar. Se o novato acha que as pessoas existem pra lhe dar tudo, então ou essa pessoa ainda é literalmente uma criança ou já é um idoso de 100 anos. Não existe micronacionalismo na mentalidade de que as pessoas são as quem devem fazer o que eu preciso. O micronacionalismo existe por pessoas que FAZEM, e não por pessoas que esperam que FAÇAM POR ELAS. Em terceiro lugar, mesmo que o micronacionalismo seja sério (não é um game de RPG), não é por isso que seja algo maçante. Se a pessoa assimilou os dois passos anteriores, a partir dai é só curtir e fazer sua carreira micronacional. Há espaço pra diversão em muitas coisas no micronacionalismo. Em quarto lugar, se você é novato, entenda claramente: DEIXE DE LADO a ideia de fundar uma micronação. É realmente fácil criar uma, porém é muito complicado manter uma. Eu já fiz de tudo no micronacionalismo, desde simples cidadão até a governador, legislador, diplomata, primeiro-ministro, rei, empresário, editor de jornal, etc, a lista é enorme. Mas ser governante é definitivamente a função que menos prazer dá, pois depois que se chega lá no topo, muita coisa perde a graça. É por isso que mesmo aqui no mundo micro nem todos podem ser governantes, presidentes, reis, etc. É uma tarefa para poucos. Ser um [governante] é até fácil, basta abrir uma micronação e se autoproclamar como tal, mas depois a coisa fica bem diferente, razão pela qual há muitas micronações que surgem e somem em menos de 6 meses. APRENDA antes a ser um micronacionalista e só daí você vai ter noção do que é melhor. Às vezes o melhor é somente ser o braço direito dos governantes, não necessariamente ser o governante.

VN: A respeito dos planos traçados e os projetos em desenvolvimento pela Prússia, há algo que o senhor poderia antecipar? O governo prussiano avalia firmar alguma parceria com os demais Estados alemães ou mesmo com algum país estrangeiro?

Carlos III: Há projetos tanto internos como também em cooperação com nações estrangeiras. Dentre vários, posso citar que há a produção de um jornal prussiano e a criação da FAP – Faculdade de Artes da Prússia. Trata-se de um resgate que trouxe dos tempos da primeira FAP, a Faculdade de Artes de Pathros, quando eu era o monarca de lá. A FAP prussiana terá várias atuações, mas recentemente, nos corredores da II Microcon, especificamente nos cafezinhos pós-debates, descobri alguns talentos que me interessaram muito e que têm a ver com a proposta da nossa faculdade. Como sabem, sou o responsável pela heráldica e organização da nobiliarquia imperial alemã, além de trabalhar na criação de muitas artes usadas no nosso meio. No final do ano passado instituí a OTA, a Ordem Teutônica Artística que tem por objetivo procurar pessoas que atuam no micronacionalismo na área heráldica. A II Microcon promoveu muito mais coisas de positivo do que somente o tema da sua proposta original, dentre elas, encontrei mais heraldistas micronacionais. Sabedor da necessidade das novas micronações nesta área específica, especialmente as micromonarquias, decidi em breve criar um seminário sobre o tema “Aplicando os Conceitos da Arte Heráldica no Micronacionalismo”. Não se trata de ensinar a desenhar brasões, mas sim, de instruir como o micronacionalista pode entender o conceito heráldico para aplicá-lo à realidade micronacional. Tenho feito isso desde 2002 em várias micronações e creio que o atual sistema de facilidades de comunicação na Internet já propicia fazermos salas de aula pra abordar esse tema de forma bem prática. Nos idos de 2002 só se podia fazer isso por e-mail, com respostas de idas e vindas bem demoradas. Agora tudo é em tempo real e isso ajuda muito. Há muito mais projetos à vista, porém, gostaria apenas de destacar esses dois em particular.

VN: Majestade, gradecemos a oportunidade da entrevista ao nosso jornal e deixamos este último espaço para suas considerações finais.

Carlos III: Quero dizer que desde que retornei à atividade micronacional, em setembro do ano passado, descobri que existe um novo estilo de micronacionalismo e que por isso me senti um pouco “dinossauro”, mas isso não é ruim, apenas uma constatação de que as coisas mudaram. Há poucos micronacionalistas na atualidade que são daquela geração, dentre eles, o Kaiser e o monarca boêmio. Os tempos mudaram, o estilo micronacional também, porém, uma coisa nunca vai mudar: ainda são pessoas de verdade, de carne e osso, pessoas do mundo macro, que tocam o micronacionalismo. Ainda existem intrigas, ainda existem os danosos e os sedentos por ver o circo pegando fogo, mas a realidade é que há muito mais gente querendo ver existir o micronacionalismo sadio do que os do lado contrário. Incentivo os novatos a procurarem amadurecer e a descobrir suas verdadeiras capacidades pra que não saiam atirando pra tudo que é lado e no final desanimar. Incentivo aos veteranos, já um pouco desanimados, a retornarem às atividades, promovendo o que já aprenderam. Incentivo, também, aos encrenqueiros a mudarem de atitude, pois a vida micro definitivamente é um retrato da vida macro, onde se você não se dá bem no micromundo, é retrato do que tem acontecido no mundo macro. Pense a respeito. Vale a pena mudar!