Vyšehrad, Praga, 21 de março de 2020 – Edição 29
Editorial: Micronacionalismo em tempos de pandemia
Os limites para a “virtualização” da realidade
Desde as primeiras notícias da disseminação mundial da COVID-19 e sua expansão pela transmissão comunitária, é certo que o comportamento dos micronacionalistas refletiu as demandas impostas pela nova realidade de isolamento social, quarentena e outros hábitos que vem sendo manifestados como reações esperadas pelo alastramento da doença. O quadro geral é complementado por uma avalanche de informações e atos oficiais que sobrecarregam o emocional das pessoas e conduzem a um leque amplo de ações orientadas pelas melhores intenções de promover informação, assistência, solidariedade e empatia.
No entanto, também abre-se precedentes para exageros, que eventualmente multiplicam informação incorreta quanto aos protocolos apropriados apontados para o cenário de evento epidemiológico, mas que estão se expressando de forma mais perceptível com a virtualização da realidade pandêmica. Explico: talvez como reflexo de uma má orientação ou compreensão limítrofe do que constitui o meio micropatriológico.
Uma consulta rápida aponta para uma trilha de despachos de Estados lusófonos que aparentemente estão acolhidos em um mesmo eixo temático de “impor quarentena”, “suspender aulas”, “isolamento social”, e outras “recomendações” para evitar o alastramento do “vírus” em seus territórios. E como considerar tais ocorrências? Não têm significado prático, em si, em favor do aprimoramento da praxis micropatriológica. O que a análise preliminar aponta é se tratar apenas de um embalo burocrático de um evento exterior à micronacionalidade, algum ou outro até plausível pela assertividade de orientar conduta apropriada para a pandemia, mas outros completamente cosméticos e sem outra finalidade concreta.
Naturalmente haverá seus defensores, mas qual objetivo haveria nestas iniciativas a não ser produzir um volume insipiente de atividade apenas para constar que determinada micronação existe? Favorecer sua legitimidade como ente de direito? É profundamente questionável a eficácia destes gestos, que não indicam nada além do aparente: a realidade exterior ao micronacionalismo sendo apropriada (e nesse sentido o emprego do termo “virtualização”) como aspecto interno de um projeto nacional que não apresenta outra evidência de dinamismo do seu tecido social. E como já defendido em outros meios e contextos por este editor e ecoado por diversos outros veículos e sujeitos, nem tudo é relativizável no micronacionalismo, tampouco tudo seja razoável para ser apropriado como aspecto inerente da prática neste ambiente.
No mais o VN reitera que todos os nossos leitores reforcem sua conduta de autopreservação diante da escalada do episódio epidemiológico, que observem o comportamento de isolamento social e sejam solidários na medida do possível àqueles que se encontram em situação de vulnerabilidade social ou dentro das faixas de risco. E aqueles que se encontram em boa saúde, física e psíquica, que possam continuar em tal estado e, na disponibilidade dada pela quarentena e suspensão de atividades exteriores ao lar, dedicar assertivamente seu tempo para o engrandecimento da prática do micronacionalismo em língua portuguesa para além das simplórias aparências ou superficialidades pro forma.
Boa sorte e saúde a todos!