CONTEÚDO

1. Editorial: Ex-presidente do Instituto Wagner, Conde de Klagenfurt

2. Entrevista: Chanceler alemão, Conde de Vyšehrad

3. Artigo: Memória e Poder, do Conde de Vyšehrad, reprodução do original publicado em 1º de abril de 2008, na revista Micropatriologia.

Editorial

Há uma década, senão mais, que a Lusofonia se debate contra a falência do hobby. Parecem grassar, com exponencial crescimento, os projetos medíocres e estranhos às boas práticas nacionais, ao passo que as nações mais antigas vão, compassadamente, caindo no abismo do esquecimento. Em boa verdade, há muitas e boas razões para acreditar que este diagnóstico – já tão antigo na fita do nosso tempo – não corresponder à realidade: e tudo resultam se houvermos de citar um dos grandes nomes da Lusofonia, o Imperador de Reunião, “da maldita inclusão digital”.

De facto, não podemos negar que surgem, quase mensalmente, novos projetos que em nada engrandecem à práxis do hemisfério de língua portuguesa. Estes projetos que, por via de inspiração do Stadhouder maurense, decidimos chamar de “paraestatais”, caracterizam-se, na sua generalidade, pelas inexperiência dos seus promotores, por uma atitude por vezes prepotente de alienação do corpo de conhecimentos acumulado pela história e por uma completa falta de zelo na construção da identidade nacional. Isto, como bem disse o estimado monarca reunião, deve-se antes de mais, à inclusão digital, que permite a qualquer um e em qualquer parte do mundo, tomar conhecimento (ou não) dos preceitos básicos do micronacionalismo. Contudo, havemos de reconhecer, que neste símbolo do progresso humano – a universalização do acesso à informação – mal algum há, pese a torrente de novos projetos limítrofes que nascem por esta via.

Tergiversamos, contudo. O ponto fundamental que pretendemos arguir é o de diagnóstico primeiramente exposto e falho na sua extensão. Portanto, se como mostramos agora, não erra em relação à mediocridade de alguns novos projetos, há de faltar com a verdade, necessariamente, quanto ao desaparecimento das nações mais antigas. Com efeito, se pusermos hoje os olhos sobre o concerto das nações, vemos pujantes e fortes em atividade muitas e boas nações clássicas ou lideradas por sujeitos experientes: o Reich, a Itália, Maurícia, Porto Claro, Portugal e Algarves e Brigância e Afrikanda. Mas ainda, nações novas de elevadíssima qualidade vão surgindo, como é o caso do Manso e da promissora Terranova. É certo, contudo, que Reunião atravessa um momento menos virtuoso e que França foi vandalizadas por agentes do caos, mas somos falaciosos se tomarmos a minoria pelo todo.

Assim, em jeito de suma, resta-nos concluir que o hobby não está em falência. Em boa verdade, o que tem surgido é uma nova geração de praticantes que, como notou o mandatário italiano na anterior edição desta revista, já não é autodidata e não aceita ser educada à base da crítica. Isto não significa que a Lusofonia, na forma como a conhecemos, esteja em vias de extinção, mas somente que é necessário adaptar a forma como recebemos os neófitos. Quanto às nações mais antigas, as razões para tamanha preocupação semelham infundadas: vivemos um Risorgimento.

Príncipe Konrad Otto, Conde de Klagenfurt, ex-presidente do Instituto Wagner (gestão 9 de fevereiro – 30 de março de 2018)

Entrevista: Chanceler Ferdinand Heinrich zu Vyšehrad

Vossa Ilustre Senhoria é um micronacionalista experiente, particularmente na área da diplomacia. Depois de tantos anos na liderança da outrora Secretaria Imperial de Relações Exteriores, como pensa que a sua experiência enquanto diplomata contribui para a condução do Governo Alemão?

Primeiramente agradeço ao convite da Valkyrie em promover este encontro para a exposição de algumas de minhas ideias e sim, realmente, estive à frente do corpo diplomático alemão em diversos momentos e pude contribuir com a política externa de Sua Majestade nas mais variadas ocasiões e por muitos anos. Isto me proporcionou um aprendizado e uma vivência com o diálogo e a proposição assertiva que caracterizam o trabalho de um diplomata. Quando veio o momento de presidir o Governo, um ambiente complexo e heterogêneo, mesmo que preenchido por um mesmo setor político, foi necessário por em prática a habilidade do ouvir, do negociar, afinal, o exercício do mandato governamental é um feito coletivo e deve promover a interação entre seus diferentes agentes e no diálogo com a Dieta.

Sob sua liderança, a democracia alemã tem-se consolidado e a produção legislativa é a mais alta da memória recente. Acredita que o exemplo alemão pode servir de inspiração à Lusofonia?

Sem dúvida! É necessário termos latente em nossa consciência que o tempo da Lusofonia como um arquipélago de nações sectárias já é superado. Toda nação, com sua especificidade e dinamismo, contribui com a ampliação das fronteiras do mundo, normalizando os espaços públicos e proporcionando referências aos gestores nacionais a partir do nosso trabalho legislativo. Considero, no entanto, um pouco exagerado que seja mérito exclusivo do atual Gabinete. A Alemanha está voltando a experimentar uma nova época de sua história e é nosso dever manejar esta onda em favor do aprimoramento do modelo nacional alemão. Aqueles que cruzam nossa alfândega e unem-se ao Reich tornam-se vetores de mudança e fortalecem o ímpeto de fortalecer as instituições democráticas e modernizar o Estado. E isto é mérito da nação.

É do conhecimento geral que o Senhor procura integrar os projetos nascentes na práxis lusófona, posição que acabou por ser adotada pela diplomacia alemã. O que o leva a apostar nas novas nações?

Existe muita desconfiança a respeito dos projetos nacionais. E não é por menos. O amadorismo exerce um efeito anárquico sobre o hemisfério se não for remediado e entendo, pela experiência, que somente o trabalho diplomático é capaz de afastar as ameaças, oferecendo boas práticas como elemento de integração. A dinâmica que o hemisfério adquiriu é pela via globalizadora, o que significa dizer que nenhuma nação é uma ilha ensimesmada. É dever das nações históricas acolher o novo para transformá-lo, não sufocá-lo. Mas isto é um modelo ideal que dialoga com nossas convicções pessoais. Minha natureza, moldada pelo trabalho como educador há quinze anos, é movida para estender a mão e compartilhar saberes quando há abertura da outra parte. É um ânimo virtuoso de “missão civilizadora”, por assim dizer, mas despida de sua natureza hegemônica e imperialista. Se o “novo” é representado por estas nações que pipocam no horizonte, a “tradição” tem o dever moral de sedimentar as convicções da ansiedade galopante destes projetos e solidificar suas fundações empregando o patrimônio acumulado pelos Estados ancestrais. Esta é a verdadeira renovação do micronacionalismo.

Com a crescente afirmação do Reich entre as nações mais jovens, o Senhor acredita que estamos em condições de falar de uma subcorrente alemã dentro da tradição peregrina de micronacionalismo?

Falar em uma “tradição peregrina” é um exagero semântico. O senso comum concede crédito a um empreendimento hegemônico do papel representado pela Casa Real italiana, da qual Sua Majestade o Kaiser integra com seus descendentes, mas esta afirmação não condiz com a realidade. Eu sou um grande respeitador do trabalho e da vocação do rei Francesco em proporcionar uma referência a tantos sujeitos através de sua filiação ao nome Pellegrini, mas é completamente impossível supor que a efeméride de concepções representadas por seus membros se uniformizem e uma só leitura de mundo. Da mesma sorte como não há o que alguns chamam de “Nações Peregrinas. O que existem são Estados aliados a longo termo que coincidentemente mantém integrantes da mesma organização familiar como mandatários. O ufanismo de uns e o desconhecimento da natureza humana por outros escurece a visão sobre a realidade. Cada nação é responsável por seu próprio destino e nenhuma concebe abdicar de sua soberania por qualquer filiação parental, isto é romantismo. A história das relações internacionais que praticamos na Alemanha é um produto da intelligentsia alemã nascida da visão do Kaiser, e não de Roma.

A formação do eixo Munique-Maurisstad, através do estabelecimento da Borgonha, teve repercussões por todo o hemisfério lusófono. Pode a integração econômica ser um meio de pacificação internacional?

Quando as nações se unem o objetivo é a pacificação. Embora hajam críticos a sua atuação, a parceria estratégica entre Maurícia e Alemanha representa um epicentro do gênio criativo. Foi através desta aliança que o tema econômico e a prática bancária ganharam luminosidade no hemisfério e suscitou outras iniciativas análogas, as quais não percebo como concorrentes. A Borgonha é um espaço que com o tempo se tornará um vetor de empreendedorismo cuja influência cruzará fronteiras. A união de Estados em torno de planos de execução direcionados para a estruturação globalizada do mundo é um processo irreversível no hemisfério e diminuirá o espaço da geopolítica sectária que ainda tem seus partidários em alguns rincões da Lusofonia.

Artigo: Memória e Poder

A um observador atento da dinâmica micronacional, notará que a História desempenha um papel que é pouco reconhecido pelos praticantes da Micronacionalidade ou mesmo distorcido pelos leigos na arte da historiografia.

A princípio, emprega-se a História como um elemento que dará “legitimidade” à micronação, pois preencherá as lacunas temporais que darão sentido ao processo cujo fim é o tempo presente da micronação no instante de seu aparecimento. Logo, é um acessório à serviço da saga criada pelo Fundador ou Fundadores da nova nação simulada. O produto é geralmente engenhoso, possibilitando ao seu produtor a possibilidade única de inventar, distorcer e até mesmo estuprar os registros históricos oficiais, assumindo uma condição de “semi-deus” ao erguer ilhas onde antes havia apenas o mar aberto, criando guerras onde as conjunturas político-econômicas não eram propícias, ao aclamar um distante parente como descendente de uma dinastia cujo trono perdeu-se a tempos imemoriais.

Dificilmente, no entanto, o Fundador se debruça longamente sobre a preocupação de dar uma razão histórica ao seu país nascente, pois os propósitos em se fundar uma micronação mudam ao longo dos anos. É certo que este autor não se preocupará em levantar argumentações referentes à Problemática da Criação na Micronacionalidade neste ensaio. Mas merece registro, no entanto, a constatação de um empobrecimento geral do elemento História como subsídio à saga constituinte das micronações, em função da não-permanência da maioria dos Estados. Das dezenas de micronações criadas, a grande maioria não passa de registros rasos de idéias, verdadeiros Estados fantasmas, que tão cedo surgem, tão logo desaparecem, e com elas morre o nome, o seu propósito e o pouco de memória que podem ter gerado, de maneira que quase ninguém – fora o próprio Fundador – irá se lembrar de sua existência. Mas há aquelas poucas que sobreviveram, ganharam notoriedade, e é ato criminoso narrar o passado do hemisfério sem fazer constantes menções das maiores dentre as sobreviventes. Nelas, vemos uma bem-delineada ficção histórica que por pouco não beira a própria verdade testemunhada pelos registros oficiais e não-oficiais.

Mas há um outro uso que atiçou a curiosidade deste autor e o motivou à reflexão: a questão da Memória histórica na forma de um instrumento de poder ao nível micronacional. Em geral, o desenvolvimento do micronacionalismo e da micropatriologia é acompanhado pela imprensa na forma dos periódicos que selecionam e registram os eventos que tomam parte no cotidiano da micronação ou conjunto de micronações onde exercem a cobertura jornalística.

À primeira vista, a noção de poder no exercício da Micronacionalidade é atrelado à autoridade estatal e a prática política. Nesse sentido, a noção de poder estaria, em primeiro lugar, vinculada a um conjunto de normas jurídicas que governam a dinâmica institucional do país e que é geralmente confundida com a possibilidade de mando. Uma compreensão de fato limitada desta questão, mas que não peca em sua conjectura, tanto é verdade que não é raro usar da prerrogativa de uma futura ascensão hierárquica dentro da micronação como um instrumento de catequese de novos partícipes dessa prática civil simulada. É certo que nesse aspecto, o exercício do mando é nulo sem uma reação que complete a atitude de dominação, que é, portanto, a obediência ao “cumpra-se”. A autoridade estatal, no entanto, em função de sua organização, é variável, e responde aos valores e ideais daqueles que constituem o Estado e a Nação da micronação criada e, portanto, o pacto firmado entre os indivíduos que formam esse grupo pressupõe a sujeição ao Império da Lei. À medida que os integrantes da sociedade civil desenvolvem-se enquanto agentes históricos e adquirem maturidade política, o espaço para o exercício do mando reduz por conseqüência, diluindo o poder constituído pela norma, e em última instância chegando a provocar o rompimento do pacto.

Diante deste cenário, a imprensa surge como um discreto instrumento, geralmente sob iniciativa da autoridade estatal, preocupado em reverter esse processo de esvaziamento do mando da autoridade, ao realizar a promoção dos atos e iniciativas do Estado ao qual pertence e, por conseguinte, dos nomes que assinam tais atos ou tomam tais iniciativas. Paralelo à promoção ocorre o registro, e entra em cena a historiografia oficial realizada a partir dos acervos jornalísticos mantidas pelo Estado empregadas como fontes ao historiador. É este conteúdo que dá sustento ao registro da Memória nas micronações1.

Mas há um outro aspecto referente à noção de poder que está em seu momento inicial de ascensão em meio à Micronacionalidade: a preservação do legado. A dinâmica micronacional é caracterizada pela curta-duração de seus fenômenos, o que acaba por prejudicar o registro de dados que assegurem uma continuidade ou hereditariedade de informações tanto entre indivíduos quanto entre entes micronacionais. No entanto, o registro é atrelado ao ativismo do indivíduo e mediante seu grau de envolvimento para com o grupo, este o “honra” com o registro pela imprensa – prática mais usual, diante das iniciativas praticadas pelo indivíduo – e em caso último, eternizando-o no hall dos notáveis. Algo é claro, reservado aos que alcançam os patamares mais elevados da hierarquia da nação e sobreviventes à onerosa espera que isso implica, combinada com uma prática virtuosa segundo os doutrinários conhecidos da Política.

A Memória histórica enquanto legado é o sustentáculo da meritocracia que entendemos por Micronacionalidade, e nesse cenário constitui um instrumento de poder mais eficaz que o mando, pois seus efeitos não cessam com o fim do exercício de cargo e a própria vivência do meritocrata é transformada em prática aceitável. Torná-la, portanto, nos modelos doutrinários dos mecanismos de catequese é o objetivo último do micronacionalista identificado com a prática meritocrática.

A historiografia micropatriológica ainda aspira por dar seus passos iniciais fora da tradição narrativo-descritiva, mas as transformações recentes que se manifestam sobre a questão do esvaziamento da autoridade e o exercício do poderão sugerir ao micropatriólogo – e no historiador – o aparecimento de novos problemas e o aperfeiçoamento da Micronacionalidade.

 Ferdinand Heinrich von Hohenzollern zu Vyšehrad.

Fonte: https://micropatriologia.wordpress.com/2008/04/01/artigo-memoria-e-poder-2/

EXPEDIENTE

EMELRICH DEGENHARD
Presidente do Instituto Wagner

KARL GUSTAV ZU VYŠEHRAD
Ministro Imperial da Educação e Pesquisa

FERDINAND HEINRICH ZU VYŠEHRAD
Chanceler