CONTEÚDO

1. Editorial pelo Rei da Itália

2. Entrevista: Príncipe de Maryen

Editorial

Formar novos quadros micronacionais nunca foi tarefa fácil, requer sim disciplina de quem está a aprender e paciência de quem se dispõe a ensinar. Não raro, aliás, a falta sobretudo da paciência tem amputado a formação de toda uma nova e necessária geração de micronacionalistas. Há ainda quem confunda um grau de rigidez pedagógica, o que é útil, com simples e delegante grosseria.

É bem verdade que quem já está neste hobby há mais de uma década, nem sempre se mostra exatamente solícito aos que chegam hoje ao micronacionalismo, porém é urgente uma rediscussão desse comportamento. Há a exigência, por parte dos mais antigos, de que os novos se apresentem com qualidade, mas não há empenho dos primeiros em promover a qualificação dos segundos.

Resposta comum a essa última afirmação seria: “mas quando nós, antigos, entramos no micronacionalismo, tivemos de aprender sozinhos.” Ok, é válida a afirmativa, porém se tem uma coisa que se pode falar em qualquer processo pedagógico é que o método que funcionou em um caso não necessariamente tem de funcionar em todos os casos. Mesmo se tratando de um hobby, no processo da educação, a regra é quase sempre o caos, enfrentado num tipo de improviso planejado.

Isso posto, cabe destacar o papel fundamental que os mais antigos tem em salvar a prática micronacional. Não há como excluir a urgência de que aqueles mais experientes percebam o quão importante é sua assistência aos novos. Por vezes, aliás, vemos algum jovem micronacionalista em vias de cometer algum erro, e no entanto perdemos a oportunidade de, com uma boa conversar, orientá-lo da melhor forma possível.

É verdade que no mínimo se espera dos novos boa vontade e disciplina para que aprendam os melindres do hobby da melhor forma possível, mas é preciso uma postura realmente receptiva por parte dos antigos. O micronacionalismo não requer apenas a união de nações, ele requer muito mais e de modo imperativo a união das diferentes gerações de micronacionalistas.

Francesco III da Itália, convidado especial

Entrevista: Príncipe de Maryen

O Principado de Maryen é uma micronação nova, fundada em 4 de julho deste ano. De lá para cá, nesse curto espaço de tempo, vem conquistando seu lugar na comunidade micronacional. Como Vossa Alteza vê a ascensão mayrenha?

Um dos pontos planejados durante e após a fundação de Maryen foi justamente a diplomacia. Tentei e ainda tento agir com o máximo de seriedade possível nos contatos diplomáticos, justamente para refletir a seriedade e a importância que damos tanto ao nosso projeto quanto aos outros. Acredito que a ascensão maryenha seja o reflexo dessa seriedade que, até agora,vem sendo reconhecida pelas outras micronações. É de extrema importância para nós, enquanto micronação recém fundada, conduzir uma diplomacia séria e, acima de tudo, reconhecida como tal. É muito animador ver que estamos conseguindo cumprir com nosso objetivo na condução diplomática

A diplomacia mayrenha, meticulosamente conduzida por Vossa Alteza, parece ter adotado como norte a cordialidade, de forma que consegue agradar e conviver com os mais diversos setores da lusofonia e anglofonia. Até onde essa “luva de seda” é eficiente?

Como disse, a condução da diplomacia maryenha tem sido feita com o máximo de seriedade e respeito possível, tanto aos nossos princípios quanto aos projetos com os quais nos relacionamos. Isso nos permite e tem sido eficiente na medida em que podemos interagir com diversas micronações e aprender um pouco com cada uma delas além de poder desenvolver projetos nas mais diversas áreas. Nem sempre esta nossa postura é compreendida e chegou a causar certas “represálias” de alguns setores da lusofonia, mas estamos sempre tentando nos relacionar com todos de forma produtiva com o objetivo de contribuir para a lusofonia, deixando pontos de vistas pessoais de lado e fazendo uma política externa mais técnica e objetiva.

No dia 17 de setembro, a diplomacia mayrenha mostrou uma nova face, posicionando-se contra a expansão territorial do Reino Unido de Amérika. Até o presente momento, nenhuma manifestação formal havia sido feita em desfavor de nenhuma micronação. O que o levou a tomar tal atitude?

Eu, pessoalmente, não concordo com anexações desenfreadas, sem sentido e sem uma necessidade e/ou atividade que a justifique. Não estou dizendo que as micronações não devam se expandir ou anexar territórios, mas que o façam a partir de uma justificativa plausível e coerente, que mostre uma real necessidade para aquela expansão. Na ocasião citada, o Reino Unido da Amérika expandiu-se de forma exagerada por territórios da América do Norte, América Central e pelo mar do Caríbe. Não concordamos com a expansão sobretudo pela incursão por territórios caribenhos, zona na qual queremos manter certo cuidado e atenção e não hesitamos em nos posicionar contrários a aquela expansão sem sentido. O Rei Amerikano na ocasião era um grande amigo, mas mesmo assim tínhamos que tomar uma decisão. Congelamos as relações com o Reino Unido da Amérika por alguns dias, até que a Amérika concordou em reduzir sua expansão territorial, limitando-a apenas à América do Norte.

Antes de fundar Maryen, Vossa Alteza foi membro do Reino Unido de Brigância e Afrikanda e do Reino da Escorvânea, micronações onde ocupou papéis importantíssimos. Tendo um histórico marcado no envolvimento com culturas mais orientais, de onde surgiu a inspiração para migrar em direção ao mar do Caribe?

Estas micronações foram importantes na medida em que me auxiliaram a ter experiência micronacional e conhecimento das dinâmicas que o micronacionalismo segue, que chega a ser tão complexo quanto o mundo macro. Foi nelas que desenvolvi boa parte das minhas ideias micronacionais. Porém não me identificava intimamente com as culturas de forma que elas me instigasse a criar projetos orientais, apesar de ter sido extremamente prazeroso fazer parte destes projetos. A América sempre me atraiu por ser um continente pouco explorado no micronacionalismo lusófono e isso por si só já me chamava a atenção. Além disso, sempre tive interesse nas culturas caribenhas e latino-americanas no geral pelo seu misto de características. Então tudo isso acabou me influenciando na escolhas das características do que viria a ser Maryen.

A identidade mayrenha está bastante entrelaçada à cultura latino-americana. Isso pode ser percebido nos referenciais cartográficos, na publicidade, na religiosidade e na melodia no hino nacional do principado. Algo que talvez não leve a uma associação visual com a cultura, são os símbolos nacionais. Vossa Alteza poderia discorrer sobre seus significados?

Realmente sempre tentamos construir nossos materiais e projetos de forma a referenciar a cultura latino americana. Com os símbolos nacionais foi mais difícil pois eu não sou um exímio conhecedor de heráldica ou vexilologia, além de não ter encontrando uma inspiração que me agradasse na região que pudessem inspirar elementos para os símbolos nacionais. Desta forma, conversando com o Imperador Oscar da Karnia-Ruthenia, que é o autor dos símbolos e um grande amigo, decidimos criar símbolos que representassem o projeto em si, que representasse a novidade que Maryen era no momento e que de certa forma “marcasse presença”, mas que fosse algo simples e elegante. Assim surgiu a ideia do Cálice no centro do escudo, por exemplo, onde estariam contidas todas as novidades que Maryen traria ao micromundo, um cálice de boas novas, podemos dizer, além de sua representação de fartura. No fim tivemos um bom resultado e acredito que os símbolos sejam agradáveis visualmente

Mayren foi a primeira micronação associada ao Wagner-Institut. Como Vossa Alteza vê a importância órgãos como o Wagner no micromundo?

Acredito ser de extrema importância existir Institutos dedicados ao desenvolvimento da pesquisa no micronacionalismo. O Instituto surgiu com um objetivo nobre de formar uma consciência mais crítica e auxiliar na formação intelectual dos micronacionalistas, contribuindo para uma pratica micronacional mais séria e de melhor qualidade. Acredito que o Wagner será uma referência na divulgação científica e no fomento à pesquisa acadêmica no micronacionalismo, acho que os micronacionalistas precisam parar para analisar o hobbie que praticam de uma forma mais academica e crítica e o Wagner dará um espaço importante para a divulgação de possíveis problemáticas que possam surgir. O Principado de Maryen tem interesse em poder contribuir com esta iniciativa e por isso não hesitou em associar-se ao Instituto.

Vossa Alteza gostaria de fazer algumas considerações finais?

Gostaria de agradecer a oportunidade e também de parabenizar a todos os envolvidos na edição e organização da Revista. O Wagner-Institut e a Valkyrie são, sem dúvida alguma, uma peça necessária no micromundo e chegaram em hora apropriada. A divulgação e publicação de materiais de qualidade ajudam a fortalecer a prática micronacional, que deve ir além da mera simulação política e o Instituto e a Revista contribuem de forma excepcional para este fortalecimento. Deixo também um convite a todos os leitores da revista a visitarem o Principado de Maryen!

EXPEDIENTE

KARL GUSTAV
Presidente do Instituto Wagner

FERNANDO DE VYŠEHRAD
Secretário Imperial de Relações Exteriores