A Cidade de Klagenfurt

Plantada no sopé do maciço de Caravanche, às margens do Wörthersee, Klagenfurt é uma metrópole moderna com um centro histórico bem preservado. A sua população ultrapassa a centena de milhares, sendo notável a proporção de estudantes e académicos da Universidade do mesmo nome. Particularmente relevante é, também, a grande massa de turistas que buscam, no verão, as praias alpinas do Wörthersee e, no inverno, a aventura dos desportos na neve. Histórica capital da Caríntia, estado austríaco, a cidade é hoje o centro de um Burgraviado Palatino diretamente sujeito à autoridade imperial, ao passo que a vizinha Villach, a pouco mais de meia hora de viagem, serve como centro da administração do Arquiducado da Áustria na região.

Untere Bahnhofstrasse de Klagenfurt em 1911
Klagenfurt em 1911.

Reza a lenda que Klagenfurt foi fundada depois de um grupo de corajosos homens ter derrotado o abominável dragão que vivia na região e atormentava as vilas próximas. O feito é comemorado numa grandiosa estátua renascentista, localizada na Neuer Platz, no Centro Histórico. A realidade histórica, menos interessante, aponta que Klagenfurt terá sido fundada pelo Duque Herman von Spanheim como uma praça forte para guardar as rotas comerciais da região. A primeira menção conhecida de Klagenfurt data de finais do século XII, num documento que isentava a Abadia de São Paulo do pagamento de portagens. No entanto, o povoado tinha sido construído numa área que sofria de inundações frequentes e, portanto, em 1246 o Duque Bernhard von Spanheim, filho do Duque Herman, mudou-o para um local mais seguro. É, por isso, considerado o verdadeiro fundador do mercado da vila, que viria a receber uma carta foral em 1252.

Ao longo dos séculos subsequentes, Klagenfurt sobreviveu a diversos incêndios, terramotos, invasões de gafanhotos e ataques dos muçulmanos otomanos. Em 1518, o Imperador Maximiliano I entregou a cidade ao cuidado da nobreza carintiana, depois do terrível incêndio que praticamente a destruiu em 1514. Apesar da apreensão da população local, a nova administração foi capaz de revitalizar a economia da cidade, ao mesmo tempo que aumentou o prestígio e a influência política e cultural de Klagenfurt na região. Diversas obras públicas contribuíram para o seu desenvolvimento e atraíram mais nobres, que ali construíram os seus palacetes de cidade. A reconstrução seguiu os princípios do Renascimento, sob o comando do arquiteto italiano Domenico dell’Allio, e incluiu a construção de novas fortificações que demorou meio século e fez de Klagenfurt a mais segura fortaleza a norte dos Alpes.

Lago Wörthersee. Ao fundo, Klagenfurt.

No entanto, em 1809, tropas francesas sob o comando de Napoleão Bonaparte destruíram quase completamente as muralhas da cidade. Hoje, resta apenas uma pequena seção, a ocidente do Centro Histórico. Em 1863, foi construído o caminho-de-ferro até Sankt Veit an der Glan e, pouco depois, a ligação por trem entre Viena e o importante porto de Trieste, que deu a Klagenfurt uma imponente estação central, solidificou a cidade como o centro da região carintiana. Esta estação, como boa parte da cidade, viria a ser destruída durante a Segunda Guerra Mundial. Até ao final da Guerra, Klagenfurt foi bombardeada 41 vezes, resultando na morte de 612 pessoas e na destruição, parcial ou completa, de mais de 1500 edifícios. No rescaldo da libertação da Áustria do domínio nazista, a cidade foi ocupada por guerrilheiros jugoslavos, tal como já havia acontecido em 1919, na sequência da Primeira Guerra Mundial. O irredentismo jugoslavo, no entanto, foi confrontado pelos britânicos que ocuparam o sul da Áustria, garantindo assim a integridade territorial da Caríntia.

A reconstrução do pós-Guerra, embora difícil (foi necessário remover um volume de destroços de 110 mil metros cúbicos), foi um sucesso. O governo provisório foi capaz de providenciar ajuda financeira aos mais necessitados e de restituir as propriedades às vítimas do regime nazista. A cidade também conseguiu dar resposta às dezenas de milhares de alemães que nela se refugiaram. Hoje, é uma cidade moderna e um polo económico e de inovação nos Alpes Orientais. Pelo seu valoroso trabalho de restauração e preservação do Centro Histórico, Klagenfurt recebeu três vezes o Diploma de Mérito Europa Nostra, número recorde. A cidade foi também a primeira da Áustria a criar uma rua pedestrianizada, além de ser uma inovadora no estabelecimento de cidades irmãs. A ideia começou ainda em 1930 com a cooperação entre Klagenfurt e Wiesbaden, na Alemanha. Depois da Segunda Guerra Mundial, muitas outras cidades irmãs foram estabelecidas e, como resultado, 1968, Klagenfurt foi escolhida como Cidade Europeia do Ano.

Em 2017, o Imperador Alemão desmembrou Klagenfurt do circundante estado da Caríntia e constituiu um condado em favor do seu segundo filho, o Príncipe Konrad Otto. Conhecedor da história de sucesso da cidade, o novo patrono imperial confirmou largamente a autonomia dos órgãos municipais até então existentes. Ainda assim, o envolvimento de um membro da Casa Imperial na administração da cidade favoreceu um renovado influxo de financiamento, além do evidente ganho de prestígio. Esta situação permitiu, de resto, que Klagenfurt fosse selecionada, em 2021, para albergar a Autoridade Monetária Alemã, superando a óbvia concorrência de polos financeiros estabelecidos, como Estugarda, Munique, Hanôver ou Frankfurt.